Texto: Karina Francis
Como fazer para sua banda ser vista e ouvida? Essa sem dúvida é uma
das principais preocupações dos artistas independentes. A Internet
facilitou essa tarefa, mesmo assim, ainda é difícil conseguir se
consolidar dentro de tantas outras bandas. Para estimular a cena
underground, os artistas começaram a se organizar para produzir
festivais de música independente, levando em conta três importantes
ações: fomentar a música independente, apresentar as bandas ao público e
realizar intercâmbio entre os músicos.
É complicado saber quantos festivais de música existem atualmente no
Brasil, porque muitos deles não estão vinculados a associações. Porém, a
Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes) conta
atualmente com 43 afiliados, de todos os estados brasileiros. Entre
eles, alguns eventos conhecidos como o Porão do Rock, o Goiânia Noise
Casarão, o Jambolada e o Vaca Amarela.
São por meio desses eventos que a prática da atividade cultural da
música se fortalece e consegue mostrar o panorama de bandas e produtos
disponíveis nesse mercado. Além disso, mais do que música, esses eventos
possuem uma programação paralela. Na maioria deles, além dos shows, há
oficinas, workshops, painéis e rodas de discussões. Tudo com o mesmo
intuito: pensar em métodos eficazes para melhorar essa cadeia produtiva.
Porém, realizar um evento exige tempo e dinheiro, aliás, muito
dinheiro. Isso porque as estruturas de som, palco e iluminação custam
caro, seja para qualquer tipo de evento. Além disso, existem os gastos
com passagens, cachês, hotéis, alimentação e divulgação dos artistas.
Talvez alguém se pergunte: Cachês para músicos independentes? Sim! Esse é
o trabalho deles, assim como o dos músicos vinculados a gravadoras
comerciais. Em média, um festival de três dias, incluindo todos os
gastos descritos acima, fica em torno de 300 mil reais.
Atualmente alguns veículos de comunicação levantaram a discussão dos
festivais independentes que recebem patrocínio de grandes empresas como a
Petrobras. O fato de ter apoio não significa que o evento perdeu sua
identidade ou se caráter de independente. Com base em diversas pesquisas
acadêmicas, existe uma questão a ser explicada: há apoios e
patrocínios. Quando um evento que se diz independente recebe apoio de
uma empresa, e este apoio não lhe dá nenhum direito sobre o evento, isso
significa que o evento permanece com sua ideologia. Apenas passa a
contar com apoio financeiro, que certamente será útil. Mas, quando um
evento recebe um patrocínio e este dá o direito de a empresa
patrocinadora ter voz na programação, condução ou qualquer outro aspecto
do evento, ai sim, o evento perde sua identidade, pois perde o controle
da situação.
O fato de grandes empresas apoiarem os eventos de música
independente, ainda mais quando o gênero é o rock and roll, é uma
evolução. Prova que o olhar de marginalidade literalmente não existe
mais, e que, hoje, o rock como música é valorizado e respeitando tanto
como a MPB, por exemplo. A linha da desigualdade está se atenuando,
“está” porque ainda falta um caminho a percorrer, e, sem dúvida, os
festivais são no momento a estrada correta para que a música
independente alcance seus objetivos.
Fonte:
Rockazine